Li este livro para o desafio de setembro do meu Clube de Leitura, tinha que escolher uma novidade editorial de um autor português e as opções apelativas não eram muitas. Queria ler o Misericórdia da Lídia Jorge, mas o tempo que tinha disponível não chegava para uma autora que não considero «fácil», e quando vi este na biblioteca, não tive dúvidas. Gosto de não ficção e o tema interessava-me.
Mas não conhecia a autora e não ia com expectativas de encontrar muito mais do que aquilo que tenho vindo a ler na imprensa desde que começou esta guerra infame (não o são todas?).
Enganei-me redondamente. Apesar de o início não ser fantástico – a autora estava de férias em Trieste quando a guerra começou, e foi daí que partiu, e as primeiras entradas do diário, com várias referências literárias, soaram-me um pouco pretensiosas. Mas a partir de um certo ponto, rendi-me à escrita e à sensibilidade da Ana França. Parece-me até, que se nota uma evolução na escrita, que se foi tornando mais depurada, e um crescimento da jornalista/pessoa à medida que o tempo passa e as experiências se acumulam.
Copio algumas passagens, porque o livro é da biblioteca e vou ter de retirar os post-its antes de o devolver :)
- A mim diziam-me na escola : « Só se adora Estaline. » Mas não vão ter a mesma sorte com esta geração. Esta geração viu o mundo, esta geração nasceu livre, é difícil abdicar da liberdade depois de a ter.
Quando um povo é forçado a esquecer a língua dos seus poetas, o coração desse povo torna-se de pedra - diz Romanna, enquanto se levanta para ir buscar um livro de Taras Shevchenko. - Deus mandou-nos os russos, mas também nos mandou Shevchenko.
Penso que nunca devia ter aceitado vir embora, devia ter seguido de Lviv para lá (Kyiv), logicamente, agora nem sei porque não o fiz, com franqueza. Medo de parecer demasiado solícita, voluntarista, um problema mais das mulheres, parece-me. Os homens, se acham que são os melhores para uma coisa, dizem-no.
Iryna ainda tem medo dos tiros, porque ainda os ouve. Diz que está a ser acompanhada porque não consegue dormir, à espera dos tiros da manhã. Do sniper também ainda tem medo, quando sai de casa a horas que os russos não permitiriam.
Como disse outra leitora aqui no GoodReads, este livro é um verdadeiro documento histórico para o futuro. Recomendo muito, se calhar ainda acabo por comprar um exemplar para mim...
Não consigo dar 5 estrelas, porque toda esta situação é simplesmente inacreditável, em pleno século XXI, mas este é um belíssimo documento histórico para o futuro
Livro extremamente necessário. Muito empolgante no início mas mais ou menos a meio começa a ser mais do mesmo. Ainda assim vale a pena ler para saber um pouco mais sobre a guerra na Ucrânia e ler, escritos na primeira pessoa, alguns relatos daqueles que tanto sofreram desde o início da guerra.
Há várias páginas do livro em que a sensação é de permanente murro no estômago. A autora consegue dar uma sensação de surrealidade aos relatos que vai contando dos cidadãos da Ucrânia, até pela quase banalidade com que são contados.
Não é possível ficar indiferente às vidas afetadas de todas estas pessoas ou ao conflito que já acumula neste momento dois anos...
Para começar, adoro o livro em si. O tom irónico e descritivo do título, o grafismo da capa e o material. Senti que tinha o diário da Ana na mão, que escreveu à máquina algures e organizou tudo muito rápido para mostrar ao pessoal.
Este é o livro, em português, para quem quer ler os testemunhos dos próprios ucranianos, e se informar sobre o que perderam e o que sofreram. Estão aqui relatos explícitos em primeira pessoa dos crimes horrendos cometidos pela Federação Russa. Algo que aparenta estar esquecido das conversações de "paz".