«As mulheres aqui retratadas não têm idade, os seus corpos são reais e palpáveis, ocupam espaço, têm cheiros, movimentos, desatinos. Conhecem o travo do suor e da menstruação, são poderosamente sexuadas e exploram sem pudor nem hipocrisia os recônditos do desejo, da solidão, da alegria e da tristeza. São mulheres sábias, com amores e humores, com hesitações e ímpetos, paixões e desamores. São mulheres que não recuam perante as apreensões e os medos e que avançam para as vitórias, os feitos, as afirmações, a alegria, o regozijo, o amor, o sexo e a liberdade. Cláudia Lucas Chéu leva-nos a conhecê-las, ou melhor, a reconhecê-las. Porque estas mulheres - e estes homens - são (somos) todos nós.» Helena Vasconcelos
Cláudia Lucas Chéu (n. 1978) é uma dramaturga, poetisa, atriz e encenadora premiada.
Cláudia Lucas Chéu nasceu em Lisboa em 1978. É cofundadora, juntamente com Albano Jerónimo, da Teatro Nacional21. Frequentou o curso de Línguas e Literaturas Modernas (FCSH) e concluiu o curso de Formação de Atores da Escola Superior de Teatro e Cinema. Estreou-se na encenação no Teatro São Luiz com Poltrona – Monólogo para uma mulher. Encenou Glória ou como Penélope morreu de tédio, no Teatro Nacional D. Maria II, e Europa, Ich Liebe Dich, no Teatro Rápido. É autora dos textos para teatro Glória ou como Penélope morreu de tédio e Poltrona – Monólogo para uma mulher, publicados pelas edições Teatro Nacional D. Maria II e Bicho-do-Mato, e Colapso, pelas edições do Teatro Nacional São João. Publicou ainda a micropeça Circle Jerk, na Núa – Revista de artes escénicas e performativas, e alguns poemas na antologia Meditações sobre o Fim – Os últimos poemas, editada pela Hariemuj. Foi distinguida no Encontro de Novas Dramaturgias Contemporâneas com o texto Mesa 4 e galardoada com um Emmy como uma das argumentistas da telenovela Laços de Sangue. Gosta do pós-dramático, de Filosofia e de bitoques.
Escrevo porque busco em mim a casa, como o caracol.
Esperava mais de um livro com um título que me remeteu de imediato para clássicos de referência e e que chega pela mão de uma autora que me tinha impressionado bastante em obras anteriores. Cláudia Lucas Chéu é uma excelente memorialista e, de facto, foi aquilo que vislumbrei dela própria aqui que mais me cativou, pois como cronista social a escrever para o jornal “Público” não há aqui grandes novidades, discorrendo sobre toda a problemática coetânea das mulheres com tendência para a trivialização, mal generalizado da literatura feminina contemporânea. Textos realmente inspirados: “A beleza não é para cobardes”, “A felicidade tem a forma de um cão”, “Apalpões e a fisga do soutien”, “Bestas insignificantes com o rei na barriga”, “Dança da revolução pessoal”, “Destemidamente imune aos horrores que me assombram”, “Equilibristas nas paragens da Rodoviária Nacional”, “Pés descalços não podem ler” e o extraordinário “Escrevo por vingança à morte”.
Escrevo por vingança à morte, que um dia me fechará os olhos e os livros inacabados, com os seus dedos de gelo, forçando-me ao silêncio definitivo. Escrevo porque amo o silêncio, não o silêncio da morte, mas o silêncio da vida que encontro na palavra escrita. Aquilo que mais me faz amar a escrita e a leitura é o silêncio das palavras quando impressas no ecrã ou no papel. Um silêncio tão fino e raro que não encontro nada comparável, a não ser talvez a vigília do sono de um filho quando ainda menino.