“Eu o vi ensanguentado com meus próprios olhos. Carregavam-no pela escada envolto em dois casacos sujos. Seu braço pálido balançava entre os homens, para frente e para trás, como se me chamasse para segui-lo, e subi os degraus, em prantos, por entre os passos pesados e firmes daqueles que o carregavam. Você dirá que é imaginação minha, mas eu jamais me esquecerei disso... Vou lhe contar um segredo que nunca revelei a ninguém: um dia, invadi o quarto deles. Não sei bem por quê, mas logo que abri a porta e cruzei a soleira, vi os dois na cama. Acho que estavam nus, mas me lembro apenas de seu braço, moreno, forte, em volta da cintura branca dela. Virei-me rapidamente, com os olhos fechados, e saí correndo. No dia seguinte, ele veio a mim, sentou-me diante dele e iniciou uma conversa. Não me lembro de nada agora, isso é tudo o que recordo de meu pai... Tudo. Tudo isso... Este é ele... Apenas um braço: uma vez, abraçando minha mãe; outra vez, ensanguentado, morto... Isso é todo meu pai. Todo ele.”