O Drone Saltitante / El Dron Pisador discussion

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The Subtle Knife
A Faca Sutil
>
[SPOILER] A faca que de sutil não tem nada
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Hm. Acho que não ajuda dizer que esse é meu livro preferido da trilogia, certo? Vou colocar aqui meus pitacos e observe que lemos traduções diferentes. A primeira tinha outros nomes para alguns objetos.
E um aviso relevante: as análises aqui NÃO correspondem a minha visão da religião. A trilogia Fronteiras do Universo trata largamente da mitologia judaico-cristã e as interpretaçãos abaixo são feitas baseadas nos livros. Não se ofendam, eu mesmo sou católico.
Faz tempo que li esse livro, lá pra 2007, mas pelo que me lembro a questão dos daemons internos do mundo de Will é uma teoria levantada no primeiro livro pelo pai da Lyra. Mas preciso buscar a passagem.
O conceito de reverência a Satão e ataque a Deus é uma subversão da ideia mitológica de bem e mal. A ideia, pelo que eu entendi, é que humanos creem em uma mitologia, que se for real é baseada em uma história contada pelos vencedores. Ou seja, não haveria forma de saber se a Autoridade é de fato o lado "bom" dessa história, mas talvez apenas o cara que ganhou e aprisionou o rebelde que poderia no fim querer libertar o mundo da tirania. Aprisionar a essência dele no aletômetro seria uma maneira de providenciar um guia. Mais ainda, foi necessária a pureza de alguém que ainda não teve seu daemon em forma fixa para "ler" corretamente o aletômetro. Ok, a Lyra é meio "a escolhida" já que consegue ler aquele treco por talento nato, mas ainda assim pode ser indicativo de que ela possui o necessário (e condenado pela Autoridade/Deus): inocência e sobretudo curiosidade. Exatamente o que condenou Eva. Assim como Bilu, Lyra busca o conhecimento, tudo o que a Autoridade não quer dar aos humanos. Pelo menos foi o que eu entendi.
Eu realemente me empolguei mais com a trama do segundo, menos infantil, mais desenvolvimento e não me lembro de ter sentido essa artificialidade quanto ao uso do aletômetro, mas talvez uma relida possa ajudar.
*ah, adicionei uma tag de spoiler no título pra avisar os incautos.
E um aviso relevante: as análises aqui NÃO correspondem a minha visão da religião. A trilogia Fronteiras do Universo trata largamente da mitologia judaico-cristã e as interpretaçãos abaixo são feitas baseadas nos livros. Não se ofendam, eu mesmo sou católico.
Faz tempo que li esse livro, lá pra 2007, mas pelo que me lembro a questão dos daemons internos do mundo de Will é uma teoria levantada no primeiro livro pelo pai da Lyra. Mas preciso buscar a passagem.
O conceito de reverência a Satão e ataque a Deus é uma subversão da ideia mitológica de bem e mal. A ideia, pelo que eu entendi, é que humanos creem em uma mitologia, que se for real é baseada em uma história contada pelos vencedores. Ou seja, não haveria forma de saber se a Autoridade é de fato o lado "bom" dessa história, mas talvez apenas o cara que ganhou e aprisionou o rebelde que poderia no fim querer libertar o mundo da tirania. Aprisionar a essência dele no aletômetro seria uma maneira de providenciar um guia. Mais ainda, foi necessária a pureza de alguém que ainda não teve seu daemon em forma fixa para "ler" corretamente o aletômetro. Ok, a Lyra é meio "a escolhida" já que consegue ler aquele treco por talento nato, mas ainda assim pode ser indicativo de que ela possui o necessário (e condenado pela Autoridade/Deus): inocência e sobretudo curiosidade. Exatamente o que condenou Eva. Assim como Bilu, Lyra busca o conhecimento, tudo o que a Autoridade não quer dar aos humanos. Pelo menos foi o que eu entendi.
Eu realemente me empolguei mais com a trama do segundo, menos infantil, mais desenvolvimento e não me lembro de ter sentido essa artificialidade quanto ao uso do aletômetro, mas talvez uma relida possa ajudar.
*ah, adicionei uma tag de spoiler no título pra avisar os incautos.

Eu acho que o que salvou o livro foi Will. Como disse, gostei do primeiro livro, e senti que o autor manteve a qualidade no que era bom, mas os defeitos, na minha visão, se agravaram; enfatizo o fator "aletiômetro".
Acho que todo o trabalho de pesquisa e montagem que o autor fez para criar sua história são muito bons, e não implico com a mensagem que ele quis passar quando inventou Aletiômetro-Lyra-Autoridade, MAS... Se posso separar o enredo do roteiro e ficar com este último, só analisando as cenas e diálogos, o aletiômetro não me desce. Explico:
O segundo livro tem o mesmo esquema de roteiro do primeiro (que pode se encaixar nas tantas teorias literárias que tem por aí). A personagem no lugar comum (Lyra-Universidade, Will-Londres), o cenário da descoberta do problema (moradia dos ciganos, mundo da faca sutil), o clímax da batalha (fuga no gelo, batalha dos zepelins), etc... E enquanto o primeiro livro tem uma boa condução de roteiro, para levar os personagens de uma cena a outra, o aletiômetro entrou como facilitador na primeira parte do segundo livro. A função prática dele no roteiro era servir de ponte para o autor mandar (e é isso que o aparelho faz) Lyra fazer o que ele quer para a história andar. Mesmo que haja todo um trabalho em volta disso, enriquecendo a trama, o efeito (ou causa?) do aletiômetro continua sendo, ao meu ver, uma preguiça narrativa. Esse papel não é novo na literatura, e já apareceu inúmeras vezes na forma de oráculo ou qualquer outra fonte de saber (eu usei em um momento na minha história, vc pode ter notado); mas para usar esse recurso, os personagens (mesmo os "escolhidos") normalmente passam por um grande desafio, e logo após a provação, a informação é obtida e o oráculo desaparece.
Lyra não só começa com o aletiômetro, como o usa indiscriminadamente, e por sorte, Will, o salvador do livro, deu um basta, e Lyra parou de ser dependente do aparelho lá mais pra frente da trama. Para esclarecer bem especificamente esse meu ponto de vista, a parte mais achei interessante no livro é depois que o aletiômetro é roubado, deixando o encadeamento dos eventos mais natural. E depois que eles retomam o aletiômetro, a trama meio que já está desvendada e os personagens encaminhados, logo há tanta necessidade do Phiplip Pullman se intrometer nas ações de Lyra.
O terceiro livro está na minha lista para o ano que vem.
*Valeu pela tag, e foi mal por não ter colocado desde o início.
Daniel Monteiro wrote: "Sim, Igor. Eu sou católico (meio afastado) e não me senti ofendido com seu post nem me incomodei com o livro.
Eu acho que o que salvou o livro foi Will. Como disse, gostei do primeiro livro, e sen..."
Agora to me fez pegar o livro pra ler de novo, em breve. Já tá na lista!
Eu acho que o que salvou o livro foi Will. Como disse, gostei do primeiro livro, e sen..."
Agora to me fez pegar o livro pra ler de novo, em breve. Já tá na lista!

Eu acho que o que salvou o livro foi Will. Como disse, gostei ..."
Hehe, não me responsabilizo.
Mas é aquela coisa: todo livro tem seus pontos fortes e fracos, cada um põe na balança o efeito que cada coisa lhe causou, e esse aletiômetro no início veio até mim como uma martelada nas córneas.
Lá vai (tem spoilers e suposições minhas para o terceiro livro):
SINOPSE:
Neste segundo volume da trilogia Fronteiras do Universo , Will tem apenas 12 anos e tudo começa quando, depois de matar um homem, ele parte para descobrir a verdade sobre o desaparecimento de seu pai. Num passe de mágica, atravessa o ar e penetra num mundo onde conhece uma estranha garota, Lyra, que, como ele, também tem uma missão a cumprir. Em Cittàgazze, onde os dois se encontram, as ruas são habitadas por espectros letais, devoradores de almas e outras criaturas aterradoras que disputam com todas as forças um poderoso talismã, capaz de cortar o nada e abrir brechas para outros universos - a faca sutil.
REVIEW:
Novamente, a sinopse é um resumo eficaz do livro, então não vou me dar ao trabalho de explicar muito mais do que ela já explica sobre o enredo. Após a viagem instigante de Lyra para salvar seu pai no primeiro livro, no segundo nós acompanhamos a jornada se desenrolar no nosso mundo, ou um mundo paralelo praticamente igual ao nosso. Aqui há um menino chamado Will que se torna alvo de pessoas estranhas e por uma obra do acaso acha a passagem para um outro mundo. Mundo esse que é o ponto de convergência para tudo na história, desde os personagens do livro 1, que aparentemente abandonaram o medo de explorar os mundos externos, até exploradores, cientistas e militares do nosso mundo.
Nesse mundo misterioso, Lyra e Will descobrem e tomam posse de um poderoso artefato cobiçado por todo e qualquer adulto e são "convocados" pelos pais de Lyra e Will para tomar parte num grande esquema de proporções extra-dimensionais, arquitetado para livrar os homens de suas amarras do destino. A trama parece interessante, e a história geral É BOA, mas a forma que se desenvolveu deixou muito a desejar. Lyra, a moleca que conseguia se virar com mentiras e traquinagens no seu mundo mágico logo percebe que no nosso mundo a malandragem de uma criança não é capaz de enganar a experiência de vida de um adulto. Essa é uma avaliação positiva da trama, pois dá mais verossimilhança, PORÉM A SOLUÇÃO PARA ISSO É QUE ACABOU COM A GRAÇA: sem poder se virar com seu talento infantil para escapada de situações indesejadas, a solução dada a Lyra pelo autor foi o uso do aletiômetro, instrumento onisciente que só responde adequadamente à menina.
No primeiro livro o instrumento é muito bem utilizado, sendo inicialmente uma peça morta e ao longo da trama ganha importância e utilidade, mas no segundo livro Lyra já domina seu uso, o que transforma o aletiômetro num DEUS EX MACHINA constante desde o início, fazendo as vezes de "voz do escritor" para guiar a trama do jeitinho que quer, só ordenando a menina a fazer tudo necessário para o desenrolar da história. A justificativa para isso é bastante obscura: as informações adquiridas no começo são um pouco contraditórias, afinal o objetivo dos heróis é matar Deus - chamado de Autoridade - ao mesmo tempo que o aparelhinho que os guia possui conhecimento divino do passado, presente e futuro; mais para frente, após a aparição de alguns personagens e revelação de suas intenções, dá-se a entender que a consciência por trás do aletiômetro não é a Autoridade, mas sim Satanás - ou algum outro nome para determinar a entidade maligna (que no caso é a salvadora dos homens). Sendo o aletiômetro o instrumento que transporta a voz do autor para os personagens, e também a forma de Satanás organizar sua investida contra Deus, não é a toa que a Igreja Católica arrumou briga com esse livro, afinal não é só uma obra de fantasia feita por um ateu, mas sim uma clara homenagem ao capiroto.
Tretas religiosas à parte, essa automatização das ações de Lyra, comandada pelo aletiômetro, tirou muito da emoção que a história trazia no seu primeiro volume. A busca de Will pelo seu pai ajudou a aliviar a monotonia da trama e tirar a sensação de orquestramento dos eventos da história, mas não achei suficiente para salvar o livro. O que realmente me fez concluir a leitura foram as explicações dos elementos (como o significado e função da matéria escura, da faca sutil, dos anjos, dos espectros, etc), e provavelmente serão eles que me farão ler o terceiro livro da série.
O que gostei
- A escrita é fluída e leve.
- Os personagens são bem definidos e carismáticos.
- Os elementos científicos-fantásticos e suas explicações.
- O enredo, numa visão macro, é bom.
O que não gostei
- A automatização dos eventos que levam a trama para frente.
- Algumas pequenas incoerências de roteiro, como a alma humana se transformar em dimon ao entrar no mundo de Lyra, mas não voltar para o corpo quando no mundo de Will.
- O autor força a barra quando faz Lyra deduzir DO NADA que no mundo de Will os dimons (que são figuras materiais) existem numa forma espiritual dentro do corpo humano.
Considerações finais
A faca sutil foi uma decepção, levando em conta a empolgação que senti no primeiro livro. Considero que o autor manteve seu padrão constante nas qualidades, mas extrapolou absurdamente a intensidade dos defeitos que já tinha demonstrado em A bússola de ouro. Não está na minha prioridade, mas pretendo um dia ler o livro 3, só para saber aonde essa merda vai dar.
Então? Concordam, discordam? Leram spoiler sem querer?