Um podcast recente conta uma história acontecida há 14 anos: um homem traiu sua mulher, a mulher descobriu a traição, o homem chorou as pitangas numa lista que mantinha com amigos por email, a mulher roubou a senha dele e leu as mensagens.

Eu estava nesse grupo.

Depois disso muita coisa aconteceu: separação tristíssima, brigas, discussões entre os amigos da lista, cujas mensagens se espalharam depois de roubadas, indo parar nas mãos de gente mal intencionada.

Agora, um podcast achou por bem difundir um programa com a ex-mulher do amigo. Detalhe: sem ouvir terceiros ou envolvidos. Embalando tudo nas cores marrons de um true crime.

Depois de 14 anos esse papo podia ter evoluído: os carinhas que lamentaram, discutiram e se comoveram com a traição pusilânime do amigo e o sofrimento da ex-mulher deviam ter dado sua versão dos fatos, e a evolução da discussão das relações de gênero acontecida na última década podia levar o tema a outro patamar.

Mas não foi o que ocorreu, e sim o velho linchamento on-line a que estamos sendo submetidos, com tentativas de hackeamento de contas e acusações descabidas. A obsessão pelo punitivismo precisa evoluir para uma argumentação lógica que nos conduza para além do atual maniqueísmo.

De todo modo, desejo paz aos envolvidos, e discernimento aos espectadores.