Filipe Russo's Blog

May 31, 2025

Relato Pessoal: Victor Evangelho

Victor Evangelho

Victor Evangelho

Relato após duas identificações neuropsicológicas:
Às vezes, passamos a vida inteira sendo rotulados como “estranhos”, nos sentindo fora do compasso da sociedade, o que gera uma desconexão profunda.
Aos 28 anos, durante a minha 1ª avaliação neuropsicológica, foram apontados indicadores de Altas Habilidades/Superdotação. No entanto, permaneci em negação por muitos anos após essa descoberta. Sentimento de insegurança e pensamentos como “provavelmente dei sorte no teste” ou “sou um impostor” frequentemente ruminavam em minha mente.
Ainda assim, fui aceito na Universidade Federal Fluminense, mesmo sem ser aluno da instituição e pude ingressar no mestrado seis meses antes de concluir a graduação, como ouvinte. Dessa forma, concluí o mestrado em apenas um ano e, posteriormente, fui acelerado para o doutorado, mediante aprovação no processo seletivo e aprovação em segundo lugar.
Aos 33 anos, já com o doutorado concluído, fui aprovado no curso de Medicina da Universidade Federal Rural do Semiárido. Foi nesse contexto que realizei uma segunda avaliação neuropsicológica. Os testes, conduzidos por um neuropsicólogo da instituição, confirmaram novamente as Altas Habilidades/Superdotação. Dessa vez, eu estava mais preparado para acolher o resultado, recebendo com alívio e uma nova perspectiva sobre mim mesmo.
Receber o laudo de AH/SD na fase adulta é uma jornada complexa de autoconhecimento. Primeiro por precisar desconstruir todo o autoconceito de si mesmo e se compreender de uma nova forma, revelando camadas profundas da própria identidade.
É como redescobrir-se através de um novo prisma, onde habilidades outrora ignoradas ou subestimadas ganham nova luz. Esse processo não se trata de reconhecimento externo, mas, sobretudo, de aceitação interna das próprias diferenças, capacidades e limitações.
Reconhecer as próprias diferenças nos permite entender melhor os processos de pensamento, emoções e maneiras de perceber o mundo. É permitir-se ser, sem reservas, acolhendo cada característica como parte essencial do todo que se é.

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Published on May 31, 2025 11:01

May 25, 2025

Publi: Nada sobre IA sem nós: usando a IA em prol da acessibilidade e inclusão de pessoas com deficiência

Convite do evento 'NADA SOBRE IA SEM NÓS', que aborda o uso da inteligência artificial para promover acessibilidade e inclusão de pessoas com deficiência. O evento ocorrerá em 29/05, às 9h, no Fiesta Bahia Hotel, em Salvador - BA (Sala 3, 1º andar). Participantes: Filipe Russo (UPC), Juliana Gonçalves (Grupo Boticário), Maria Villela (TRT 1ª Região), Priscila Siqueira (Vale PCD), Reinaldo Ferraz (NIC.br), com moderação de Paula Guedes e relatoria de Isabela Inês. Haverá transmissão online no YouTube do @NICVIDEOS.

Nada Sobre IA Sem Nós

Proponente: Juliana de Freitas Gonçalves

Região: Sul

Setor: Empresarial

Co-Proponente: Paula Guedes

Região: Sudeste

Setor: Comunidade Científica e Tecnológica

Temas: Universalidade

Muito se fala dos riscos do uso da IA não regulada, especialmente na exclusão de grupos vulneráveis. Porém, a tecnologia tem elevado potencial de atuação em prol da acessibilidade e inclusão de pessoas com deficiência, seja ela visual, auditiva, física ou intelectual. Logo, o objetivo central do painel é discutir a IA a partir do princípio da beneficência ao pensar a tecnologia como ferramenta estratégia para a inclusão de pessoas com deficiência em uma sociedade que tende a excluí-las.

Transmissão Online

Palestrantes

Filipe Russo

Filipe Russo (UPC)

Filipe Albuquerque Ito Russo é uma pessoa com deficiência física oculta, indígena e agênere de Manaós, vivendo atualmente em Barcelona, autore dos romances premiados Caro Jovem Adulto e Asfixia. Mestrande em Ciência de Dados com ênfase em Big Data pelo programa Erasmus Mundus da União Europeia nas instituições ULB, UPC e UniPd. Revisore no periódico científico Revista Neurodiversidade e editore do blog SupereficienteMental.com.

Juliana Gonçalves

Juliana Gonçalves (Grupo Boticário)

Formada em Comunicação Digital pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e pós-graduada em Design de Interfaces Acessíveis (UX e Acessibilidade Digital) pela PUC-SP. Atua como UX e Product Designer há mais de 10 anos, mas atualmente trabalha focada como Especialista em Design Inclusivo no Grupo Boticário. Já foi bolsista do Programa Youth do CGI.br por 3 anos – 2016, 2018 e 2019 –, participando de fóruns nacionais (FIB) e Internacionais (IGF). Foi no FIB de 2018, onde assistiu duas palestras com o tema de acessibilidade, que se apaixonou pelo assunto e transformou a acessibilidade em objetivo de vida profissional.

Maria Villela de Souza Ferreira

Maria Villela de Souza Ferreira (Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região)

Maria Villela é bacharel em Direito, graduada pelo Instituto Brasileiro de Mercados e Capitais – IBMEC. Publicou premiado artigo na obra Estudos contemporâneos das ciências criminais na defesa do ser humano: homenagem a Evandro Lins e Silva, e atualmente é servidora do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região.

Priscila Siqueira

Priscila Siqueira (Vale PCD)

Mulher apaixonada por promover mudanças significativas. Pessoa com deficiência, bissexual e formada em Psicologia. Fundadora e CEO do Vale PCD, uma ONG voltada para a inclusão de pessoas com deficiência que são LGBTQIA+, onde o compromisso com a diversidade e inclusão levou a ser reconhecida como LinkedIn Top Voice.

Reinaldo Ferraz

Reinaldo Ferraz (NIC.br)

Formado em desenho e computação gráfica e pós graduado em design de hipermídia pela Universidade Anhembi Morumbi em São Paulo. Trabalha com desenvolvimento web desde 1998. Coordena as iniciativas de acessibilidade na Web do NIC.br e projetos relacionados a Open Web Platform, Digital Publishing e Web das Coisas. Representante do NIC.br em grupos de trabalho do W3C internacional em Acessibilidade na Web, Digital Publishing e Web das Coisas. Também coordena o grupo de trabalho da ABNT responsável pela norma técnica para acessibilidade em aplicativos de dispositivos móveis, ministra curso de extensão na PUC-SP sobre Design de Interfaces Acessíveis e é autor de quatro livros, sendo dois deles sobre Acessibilidade na Web.

Moderação

Paula Guedes

Paula Guedes (Artigo 19 Brasil / Núcleo Legalite da PUC-RJ)

Advogada de direito digital. Doutoranda em Direito e Inteligência Artificial pela Universidade Católica Portuguesa – Centro Regional do Porto. Pesquisadora do Legalite PUC-Rio. Certificada em AI Policy (Advanced) pela Center for AI and Digital Policy. Assessora plena do Programa de Ecossistemas de Tecnologias da Informação e Comunicação da Artigo 19 Brasil e America do Sul.

Relatoria

Isabela Inês Bernardino

Isabela Inês Bernardino (Advogada Autônoma)

É advogada e mediadora humanista. Pós-graduada em Governança e Regulação da Internet pela Universidade de Mendonza e bacharel em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Foi pesquisadora no Instituto Vero e no Instituto de Pesquisa em Direito e Tecnologia do Recife (IP.rec), com foco nos estudos sobre infância e juventude nas redes sociais, bem como na produção de mídias. Foi bolsista do Programa Youth do CGI.br em 2019. Foi fellow no Summer Institute da BKC na Universidade de Harvard. Participante do Youth Observatory, Internet Society.

Fonte

Comitê Gestor da Internet no Brasil. (2024, 23 de maio). Nada sobre IA sem nós: usando a IA em prol da acessibilidade e inclusão de pessoas com deficiência. Fórum da Internet no Brasil. https://fib.cgi.br/agenda/3594

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Published on May 25, 2025 11:50

December 1, 2024

Relato Pessoal: Flávia Gemaque

Flávia Gemaque

Flávia Gemaque

Eu era a criança vista como excêntrica, com gostos e aspirações altamente atípicas. Aquela que decifrava todos os gestos e olhares, a que aprendeu a ler sozinha aos 4 anos.
Minha impaciência e inconformismo eram extremos, eu não conseguia aceitar o fato de ninguém mais enxergar o mundo como eu enxergava, de ninguém ver as cores das letras, números, dias da semana, nomes próprios e sons.
Aos 8 anos de idade, minha professora me identificou como superdotada: Reuniu a equipe escolar, depois foi à minha casa, sempre muito curiosa, ouvi toda a conversa atrás da porta. Ela disse que eu poderia ter uma vida de dor, por nunca me encaixar, por nunca deixar de buscar respostas, por não me aquietar… Eu argumentava tudo e convencia quase todos, era vista como tímida, calada, no entanto rebelde e explosiva e geniosa.
Adulta e com um filho autista de nível 2, tornei-me paciente da neurologista do meu filho, a qual um dia me disse: “Apesar de muito hiperativo, o mapeamento cerebral dele não apresenta nenhuma alteração, já o seu apresenta muitos padrões tensionais… tentando ser o mais didática possível, não há nada patológico, eu posso interpretar que sua mente não pára e, depois de meses te acompanhando, eu gostaria muito que você entrasse em um programa de pesquisas em comportamento humano, para contribuir com gerações futuras”. Depois dessas palavras, eu procurei a professora que me identificou aos 8 anos e ela disse: “Você marcou minha vida, você me deu muito trabalho. Eu havia acabado de iniciar no magistério e não sabia muito o que fazer… eu levava uma atividade pra turma, pra você eu precisava levar umas cinco, você tinha respostas e argumentos pra tudo”.
Há os que romantizam muito a superdotação. Posso afirmar que sofri por ser diferente, sofri por enxergar além, por minha enorme e desmedida intensidade emocional, por ter plena consciência de que a condição não se resume em inteligência acima da média, mas engloba uma série de fatores tão enormemente significativos que podem levar ao prestígio, mas também a uma dor intrínseca e anônima, que pode nos afastar de ideais, objetivos, nos fazer trilhar um caminho solitário e nos apresentar um cotidiano desorganizado e até mesmo, caótico.
Durante toda a minha vida escolar aprendi sem fazer esforços, observava a explicação dos professores e aquilo já era suficiente. Na graduação, o nível e a exigência aumentaram muito, então eu percebi que durante a vida toda fiz tudo errado, eu nunca havia aprendido a me esforçar. Paradoxalmente a isso, eu não gostava das novas aulas mais “difíceis”, ainda assim, eu esperava muito mais delas e acabava abandonando algumas disciplinas pela metade. Essa realidade chocante me gerou angústia, ansiedade e frustração, mas o quadro permanecia o mesmo, só mais tarde, já no Mestrado, aprendi a organizar os estudos, na verdade, aprendi de fato a estudar.
Relutei muito em escrever aqui, por medo de parecer esnobe, pois sempre fui precoce e acima da média, mas autoconfiança nunca foi algo que eu dominasse, segurança só conheci quando me tornei mãe, pois com ele eu não me permitia errar, ele não podia me ver tão falha e inconstante.

Flávia Gemaque
Amapaense.
Professora de Biologia, ex-professora de Francês, Mestre em saúde, dançarina e escritora.

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Published on December 01, 2024 08:48

September 15, 2024

Entrevista: Alvaro Henrique

Alvaro Henrique

Alvaro Henrique

Supereficiente Mental: Ninguém nasce com consciência de sua própria superdotação, contextualize para nós a descoberta da sua.

Alvaro Henrique: Embora sempre cresci sabendo que era diferente, e sabendo que os outros sabiam que era diferente, o diagnóstico só veio depois dos 40 anos, enquanto estava tratando uma depressão após um divórcio durante a pandemia. Naturalmente, procurei ajuda psicológica pra esta questão, e ao longo do tratamento a profissional desconfiou que havia algo mais ali que fazia o tratamento não ter o mesmo resultado. Ela solicitou uma bateria extensa de exames, cobrindo questões além da neurodivergência, e foi uma surpresa ter esse resultado. Depois, fez todo o sentido, mas o estereotipo do gênio cria muitos mal-entendidos.

SM: Quais são suas áreas de alta habilidade?

Alvaro: Idiomas, música e ciências.

SM: Quais idiomas você fala e por quais você demonstra interesse?

Alvaro: Com fluência, espanhol e inglês. Morei na Alemanha, perdi bastante do alemão, e estou querendo melhora-lo. Estou começando no latim e no chinês. Qualquer idioma cujo uso me parece pratico me interessa. Tem um filme com o Antonio Bandeiras, o 13o Guerreiro, no qual ele interpreta um árabe que viaja com vikings. No filme, ele aprende o idioma só de ouvir as pessoas. Já me aconteceu algo parecido em viagens pela Finlândia e Grécia.

SM: Qual o tema da sua pesquisa doutoral? O que lhe atraiu para ele?

Alvaro: Ainda é possível ter alguma alteração, mas tudo já aponta para ser sobre obras que constituem parte das primeiras obras para violão solo de compositores nascidos em Brasília. O fato de eu ser de Brasília é um fator muito forte para determinar esse assunto, mas desde o diagnóstico uma coisa que me questiono muito e o quanto certas escolhas são genuinamente minhas ou são o que me foi permitido escolher.

SM: Quais instrumentos musicais você toca e por quais você demonstra interesse?

Alvaro: Vou ser polêmico com a comunidade. Há provas claras (Karl Anders Ericsson é só um dos exemplos) que excelência demanda especialização. Quando falo excelência, não estou falando do seu amigo ou parente achar bonito, estou falando em ser premiado em concursos internacionais de interpretação musical. Como ter esse nível de excelência é algo importante pra mim, me dedico exclusivamente ao violão erudito – que é o mesmo violão de nylon que voce tem em casa, mas com uma técnica e um repertório mais próximos do piano que do universo do acompanhamento de canções – que, na minha visão, nem é tocar violão, assim como ninguém diz que toca piano, violino, flauta, só batendo acorde.
Já estudei oboé, regência coral, canto lírico, guitarra elétrica, piano, mas os caminhos foram se desenhando no mundo do violão clássico de um jeito mais simples e mais fácil que nos demais instrumentos. Quando chegou o momento de buscar um curso superior em musica, foi a hora de definir uma especialização, e tenho me dedicado ao violão erudito desde então.

SM: O que lhe atraiu, de todos os lugares, a estudar em Georgia nos Estados Unidos?

Alvaro: Responder essa pergunta foi o que mais me atrasou a responder essa entrevista.
Quando ela chegou, estava vivendo uma situação que ainda era uma ferida aberta. Mas vamos do começo.
O estudo de musica no nível de graduação e pós é uma área bastante delicada.
Raramente os cursos têm estrutura e pessoal suficientes para ofertar varias opções de professores, orientadores, de acordo com a area ou o instrumento. Isso faz com que aquela universidade toda, com milhares de professores, na verdade significa, para os alunos de música, apenas um único professor que leciona seu instrumento ou pesquisa na sua área. Então a escolha de local para estudo não é uma escolha de qual instituição, mas é uma escolha de qual pessoa.
Naturalmente, o local tem algum peso. Em função de ser servidor publico estável (sou professor na Escola de Música de Brasília), e já ter ingressado no serviço publico com mestrado, o doutorado seria a minha última oportunidade de estudar no exterior. Como o sistema educacional na Europa é diferente do brasileiro, validar diplomas europeus, na minha área, envolve um risco. Já os diplomas estadunidenses, por serem o mesmo sistema educacional, são mais fáceis de serem validados.
Uma vez limitado geograficamente, a questão nunca foi qual estado ou qual universidade nos EUA, mas qual pessoa. Infelizmente fiz uma escolha errada, fui enganado, e vivi situações extremamente desagradáveis com meu orientador. Estou me transferindo para a University of Minnesota, esperançoso de ser um recomeço melhor. Vamos aguardar. Infelizmente o momento nos EUA também é bastante ruim. É um momento em que o mundo mudou mas gerações inteiras estão se recusando a mudarem junto, e nos EUA há muita permissividade para perseguições e assédio moral por parte dos professores. É uma legislação totalmente diferente, e há formas de discriminação que são permitidas na lei. Pior: professores que foram punidos por descumprirem a lei estão conseguindo reverter na justiça suas punições. É um ambiente em que um professor universitário pode ser extremamente bem sucedido em ser um destruidor de vidas por toda sua carreira acadêmica.

SM: Quais metas ou projetos você ambiciona realizar nos próximos anos?

Alvaro: Muitos. Resumindo, quero realizar todos os sonhos que me foram roubados. Quero chegar na final do maior concurso de violão do mundo. Quero receber um Grammy. Quero ter o reconhecimento justo de acordo com o trabalho que tenho realizado. Quero poder levar ao público a gravação que fiz de todas as musicas com violão de Heitor Villa-Lobos – faltam etapas após a gravação. Quero formar uma família. Quero lecionar no nível superior. Quero todas as coisas que me disseram, direta ou indiretamente, que era um desperdício querê-las.

SM: Você ou algum membro de sua família recebe algum acompanhamento psicológico? Em caso positivo fale como isso funciona para vocês.

Alvaro: Atualmente, com a transferência das universidades, estou num limbo no seguro de saúde dos EUA, e não estou recebendo acompanhamento no momento. Já fiz sessões recentemente, e foi um pouco estranho fazer terapia nos EUA. Quero retomar, mas imagino que não vai ser simples encontrar um profissional que funcione adequadamente. Há um excesso de pragmatismo, como se uma sessão fosse uma “novalgina mental” – e não é assim que funciona.

SM: Algum lema motivacional?

Alvaro: Faça todo dia algo que vai te deixar mais perto dos seus sonhos. Nem que seja só um passo, uma etapa, dentro de milhares que precisam ser feitas.

SM: Você ou algum membro da sua família recebe algum acompanhamento psicopedagógico? Em caso positivo, fale como isso funciona para vocês.

Alvaro: Não.

SM: Algum recado pra galera?

Alvaro: Precisamos estar juntos. Nos PAHSD precisamos de um esforço para estarmos em comunidade. O isolamento dos nossos hiperfocos, o conforto dos vieses de confirmação, a seguranças de nossas bolhas são lugares muito confortáveis para nós. Mas precisamos ser uma comunidade e precisamos ser agentes políticos no sentido grego da palavra, político de “da pólis”, “da cidade”. Enquanto a gente for visto como seres que só existem nas escolas de ensino fundamental, seguiremos sofrendo nos consultórios. Terapia ajuda para amenizar dores que não ocorreriam caso PAHSD fossem considerados existentes na sociedade. Enquanto a sociedade não entender que a gente existe, seremos só os bichos estranhos. Na melhor das hipóteses, gente excêntrica que é engraçada de ver numa série de TV. E isso não basta.

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Published on September 15, 2024 09:38

June 29, 2024

Publi: Campanha para a Edição Comemorativa de 10 Anos do Romance Asfixia

Asfixia por Filipe Russo

Asfixia por Filipe Russo

ASFIXIA
EDIÇÃO COMEMORATIVA DE 10 ANOS

O romance de terror Asfixia publicado independentemente em 2014 e premiado pela USP em 2016 comemora 10 anos!

A nova edição da obra traz ilustrações originais de Kaori Nagata, quem assina capa, contracapa e orelhas do livro, o romance conta ainda com prefácio inédito por Mabelly Venson, editora na Toma Aí Um Poema.

Apoie a literatura neurodivergente e independente no link abaixo:

https://benfeitoria.com/projeto/asfixia

SINOPSE

Em Asfixia, Filipe Russo tece uma trama complexa e visceral, onde o horror se manifesta tanto no físico quanto no psicológico. O romance se dilata com a protagonista acordando em um lugar desconhecido e ameaçador, suas primeiras sensações são de um pavor vazio, acompanhadas de visões de uma criatura deformada que a confronta com uma realidade que desafia a sanidade. Russo habilmente transita entre o grotesco e o belo, construindo uma narrativa onde o medo é palpável e a tensão, constante.

Enquanto a protagonista luta para compreender sua identidade e a natureza de seu cativeiro, ela é assolada por memórias fragmentadas e revelações perturbadoras sobre sua vida. Cada capítulo do livro desdobra mais camadas de uma realidade decadente, onde espaços físicos como banheiros, quartos e corredores se transformam em labirintos de terror psicológico. A narrativa é intensificada por descrições texturais que mesclam o horror de ambientes carcomidos e atos de violência com momentos de introspecção dolorosa e descoberta de si.

Asfixia apresenta a ansiedade frente ao desconhecido e ao familiar que logo se torna estranho ou amedrontador. Russo desafia o público a questionar o que é real e o que é produto da mente perturbada da protagonista, enquanto ela navega por uma série de eventos que testam sua força e sua vontade de sobreviver. Cada nova cena se desfia meticulosamente sob o olhar ávido da leitura, em meio ao sangue que mancha azulejos até as expressões de terror que distorcem rostos, todos envoltos em uma atmosfera densa e sufocante que justifica o título do livro.

Com uma escrita visceral que flui entre o poético e o perturbador, Russo constrói uma narrativa que é ao mesmo tempo um estudo de personagem e um romance de terror introspectivo. A jornada da protagonista se concentra na busca pela verdade e pela saída em um mundo que parece empenhado em expor suas faces mais sombrias uma sobre a outra, uma contra a outra, sem revelar nenhum sentido ou significado existencial. Asfixia não é somente uma história sobre monstruosidades e medos encarnados, mas também sobre os horrores que residem dentro de nós, esperando apenas pelo momento de verterem sangue ou pele afora.

Em última instância, Asfixia de Filipe Russo cativa e aterroriza a um só tempo, ao nos convidar a olhar fixamente a face do que nos assusta e a questionar a natureza da própria realidade. É uma queda irremediável pelos corredores obscuros da existência humana, onde cada página virada nos funda ainda mais no lodo da humanidade.

Marcador de página

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AUTORIA

Filipe Albuquerque Ito Russo é uma pessoa com deficiência física oculta, agênere, autista e superdotade, natural do território ancestral de Manaós, vivendo atualmente no de Piratininga. Sua ancestralidade contempla ascendências indígena, italiana, espanhola e portuguesa. Autore dos romances premiados Caro Jovem Adulto (2012) e Asfixia (2014), assim como vencedore do concurso artístico O Olhar em Tempos de Quarentena (2020) e de prêmios de excelência acadêmica em Inteligência Artificial, Psicologia, Gamificação, Empatia e Computação Afetiva (2021). Revisore no periódico científico Revista Neurodiversidade. Especialista em computação aplicada à educação e licenciade em matemática pela USP. Co-organizadorie das coletâneas de poesia neurodivergente “poETes: altas habilidades com prosa e poesia” (2024) e “poETes: altas habilidades com poesia” (2023), além de participante em diversas antologias poéticas.

Filipe Russo

Filipe Russo

O Toma Aí Um Poema

Toma Aí Um Poema

O Toma Aí Um Poema é um projeto potente de leitura e divulgação de poesia lusófona. Começou em 2020 como podcast, depois virou revista literária interativa e hoje é uma editora preocupada com a emancipação dos autores. É considerado um dos projetos literários mais inovadores da atualidade e soma resultados incríveis:

1k+ autores lidos | 1k+ poetas publicados | 1 milhão de players

Não deixe de contribuir e apoiar social e financeiramente a campanha de Asfixia:

https://benfeitoria.com/projeto/asfixia

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Published on June 29, 2024 13:36

May 4, 2024

April 27, 2024

Sobre-excitabilidades: Formas e Expressões de Sobre-excitabilidade segundo Piechowski

Sobre-excitabilidades

Sobre-excitabilidades

PSICOMOTORA

Excedente de energia

fala rápida, excitação acentuada, atividade física intensa (por exemplo, jogos e esportes rápidos), pressão para ação (por exemplo, organização), competitividade acentuada

Expressão psicomotora de tensão emocional

conversa e tagarelice compulsivas, ações impulsivas, hábitos nervosos (tiques, roer unhas), vício em trabalho, ação impulsiva que expressa emoções ou conflitos inconscientes

SENSUAL

Maior prazer sensorial e estético

ver, cheirar, provar, tocar, ouvir, deliciar-se com belos objetos, sons de palavras, música, forma, cor, equilíbrio

Expressão sensual de tensão emocional

comer demais, excesso de indulgência sexual, farras de compras, querer estar no centro das atenções

INTELECTUAL

Atividade intensificada da mente

Curiosidade, concentração, capacidade para esforço intelectual sustentado, leitura ávida, observação aguçada, recordação visual detalhada, planejamento detalhado

Propensão para sondar questões e resolver problemas

busca pela verdade e compreensão, formação de novos conceitos, tenacidade na resolução de problemas

Pensamento reflexivo

pensar sobre pensar, amor pela teoria e análise, preocupação com lógica, pensamento moral, introspecção (mas sem auto-julgamento), integração conceitual e intuitiva, independência de pensamento (às vezes muito crítico)

IMAGINATIVA

Jogo livre da imaginação

uso frequente de imagem e metáfora, facilidade para invenção e fantasia, facilidade para visualização detalhada, percepção poética e dramática, pensamento animista e mágico

Capacidade de viver num mundo de fantasia

predileção por magia e contos de fadas, criação de mundos privados, companheiros imaginários, dramatização

Imagens espontâneas como expressão de tensão emocional

imagens animistas, mistura de verdade e ficção, elaborar sonhos, ilusões

Baixa tolerância ao tédio

necessidade de novidade e variedade

EMOCIONAL

Sentimentos e emoções intensificados

sentimentos positivos, sentimentos negativos, emoções extremas, emoções e sentimentos complexos, identificação com os sentimentos dos outros, consciência de toda uma gama de sentimentos

Expressões somáticas fortes

estômago tenso, coração apertado, rubor, coração acelerado, palmas das mãos suadas

Expressões afetivas fortes

inibição (timidez), entusiasmo, êxtase, euforia, orgulho, forte memória afetiva, vergonha, sentimentos de irrealidade, medos e ansiedades, sentimentos de culpa, preocupação com a morte, ânimo depressivo e suicida

Capacidade para apegos fortes, relacionamentos profundos

fortes laços emocionais e apegos a pessoas, seres vivos, lugares, apegos a animais, dificuldade de adaptação a novos ambientes, compaixão, responsividade aos outros, sensibilidade nos relacionamentos, solidão

Sentimentos bem diferenciados em relação a si mesmo

diálogo interno e auto-julgamento” (Piechowski, 1999, conforme citado por Daniels & Piechowski, 2009, p. 10-11, tradução de Filipe Russo).

REFERÊNCIA

Daniels, Susan; Piechowski, Michael. (2009). Living with intensity: emotional development of gifted children, adolescents, and adults. Scottsdale: Great Potential Press, Inc.

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Published on April 27, 2024 12:58

April 20, 2024

História: Infra-dotado X Superdotado segundo Daniel Antipoff

Infra-dotado e Superdotado

Infra-dotado e Superdotado

O Infra-dotadoO Superdotadoa) Exige repetiçõesa) Rejeita Repetição. Quer novidadesb) Prefere atividades práticasb) Prefere atividades intelectuais, pensa no futuroc) Pede ajudac) Mostra independência, senso de iniciativad) Só trabalha bem em grupo pequenod) Prefere o trabalho individuale) Aprecia o professor atenciosoe) Prefere professores cultosf) Preferível é o sistema autoritáriof) Evita ordens; sugerir apenasg) Só produz em classe pequenag) Aceita classe grande e cheiah) Brinca com menores que eleh) Aproxima-se dos mais velhos

(Antipoff, 1999, p. 156)

REFERÊNCIA

Antipoff, Daniel. (1999). Excepcionais e Talentosos – Os Escolhidos. Belo Horizonte: Lastro Editora.

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Published on April 20, 2024 13:03

April 13, 2024

Identificação: Superdotades em Sub-rendimento na Sala de Aula

Superdotade em sub-rendimento

Superdotade em sub-rendimento


(1) Identificação de discrepâncias entre habilidades cognitivas expressas na formulação de perguntas e hipóteses—e desempenho escolar normal no cumprimento de tarefas, lições de casa e testes.


(2) Identificação de grandes diferenças entre conhecimento geral e específico derivado de leituras extensivas em casa e fracasso em completar tarefas de leitura na escola.


(3) Comparação entre o investimento em interesses amplos fora da escola e o mínimo esforço investido em projetos escolares.


(4) Avaliação combinada discente e docente sobre suas forças e fraquezas acadêmicas, escolhas acadêmicas pessoais e esforço investido em diferentes disciplinas.


(5) Consulta aos responsáveis legais, professores prévios e equipe profissional na escola, sobre os hábitos de aprendizagem e o comportamento social estudantil. Uma queda no desempenho escolástico de aproximadamente dois anos indica um sub-rendimento estudantil (Butler-Por, 1993, p. 651, tradução minha).


Referência

Butler-Por, Nava. (1993). Underachieving Gifted Students [Estudantes Superdotades em Sub-rendimento]. Em K. A., Heller, F. J., Mönks, A. H. Passow, (Eds.), International handbook of research and development of giftedness and talent [Livro base internacional de pesquisa e desenvolvimento da superdotação e do talento] (pp. 649-668). London: Pergamon Press.

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Published on April 13, 2024 11:03

April 6, 2024

Relato Pessoal: Everton dos Santos Borges

Pe. Everton dos Santos Borges

Pe. Everton dos Santos Borges

Eu, Superdotado?

Há poucos meses recebi o Laudo afirmando que tenho Altas Habilidades ou Superdotação. Não foi fácil aceitar. Nunca me achei com tanta inteligência, pelo contrário, a cada descoberta eu me sentia menos entendedor.

Todas as vezes que me encontrava com um serralheiro e procurava aprender um pouco de seu ofício, via que não sabia nada de como labutar com os ferros e acontecia o mesmo ao me encontrar com pedreiros, carpinteiros, médicos, psicólogos, teólogos e outros profissionais.

Ao contemplar a sabedoria de cada ser humano, eu via como precisava aprender.
Sempre me encantei pelas profissões, admiro do pedreiro que constrói casas aos astronautas, digo isso com sinceridade. Quem me conhece sabe o quanto eu gosto de perguntar a cada um sobre sua missão. Gosto de aprender.

Mas, nem tudo são flores, sempre tive incertezas. Desconfio de mim, dos meus dotes, até mesmo nos assuntos em que me aprofundo.

No meu cérebro parece haver um enorme universo que aparenta ser infinito. Gerando incompreensões sobre mim e os outros, unido à sensação de que o mundo é muito mais do que ostenta ser.

Como parecem sábios os que olham para o homem e o Universo sem ser incomodado e impactado por sua complexidade! Como, muitas vezes para esses, são fúteis os pensamentos dos que enxergam além do que se vê.

Perguntei a um dos meus terapeutas quais são as semelhanças entre os superdotados que ele assiste; Dr. Juan me respondeu que fazemos muitas perguntas e que sabemos, mas achamos que não sabemos. Ele tem uma forma simples e clara de explicar as coisas, o que facilita.

De fato, essa é uma das piores sensações. Ao não me ajustar no mundo, me via como uma pessoa errada, minha vida sempre foi uma assincronia.

Tentava me ajustar e, quando não conseguia, ficava irritado comigo mesmo, feria e era ferido. Depois vinha o arrependimento e a tristeza de um pensamento que me acusa toda vez que erro e que cobra de mim uma perfeição a cada instante da minha vida.

Sim, o preciosismo. O achar que não me doei o bastante, que não fui bom o suficiente e que preciso melhorar é desgastante.

Unido a tudo isso, vem a hipersensibilidade. Sentir o mundo de uma maneira diferente através dos cincos sentidos. Assim, o barulho se torna mais alto, o frio e calor mais intensos, os sabores mais acentuados, os cheiros mais fortes. Sem falar nos sentidos que transcendem o conhecimento científico.

Imagine passar a vida com todas essas divergências sem saber que és diferente. A todo instante, o desejo de ser uma pessoa melhor, mas diante de tanto desajuste, consequente e constantemente, vem os erros como explosões, incompreensões, incertezas, dores e muitos outros. Tudo isso causava acusações, mas as piores não eram as externas e sim as internas.

Incompreendido na escola, aquela mente que poderia galgar altas colinas, passa a se esconder e se achar um nada com a triste sensação de inferioridade e o pior, o que mais doía, era, como disse o meu terapeuta, saber que eu sabia. Mas, é difícil apresentar o “verde onde enxergam o amarelo”. E quando, por vezes insistia, era colocado como um arrogante ou me perguntavam pela referência. Que referência? Isso saiu da minha cabeça, li, estudei e sei lá, de uma hora para outra veio as conclusões.

Mas, por não ter referências, muitas vezes me achava um manipulador. No ensino superior, principalmente na Filosofia, me dei bem. Aprendi a procurar referências que dessem razão para os meus pensamentos. Revelo agora que eu pensava e procurava embasamento. Tem dado certo.

Sou padre Católico e digo, unido à minha família, a religião me salvou. Ela me ligou ao transcendente. Sim, em Deus meu cérebro encontrou descanso, a meditação me acalma e me faz chegar às alturas do universo através da contemplação.

Faço esse texto admirando um lindo lago e esperando pelo pôr do sol. Hoje, começo a compreender que Altas Habilidades ou Superdotação não é somente questão de inteligência, todavia é um jeito de ser, de existir, um modo diferente de ver e sentir o Universo.

A hipersensibilidade que tanto me atrapalhou, hoje compreendida, me faz sentir a brisa suave, o cantar dos pássaros, o movimento das águas e o quanto tudo isso é belo.

Que o meu Criador me leve ao mais belo que esse mundo pode dar e que me oriente à Sua Vontade. Como me diz a Adriana Mendonça, o que eu estou vivendo é apenas o começo.

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Published on April 06, 2024 10:20