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Agora Calvino se debruça sobre autores mais conhecidos como Flaubert Tolstói, Twain, James, Stevenson, Conrad, etc, porém as obras que o autor contempla talvez não sejam as mais conhecidas dos leitores brasileiros. Como anteriormente alguns ensaios são mais interessantes do que outros.

Calvino segue em seus apontamentos, alguns extremamente interessantes outros bastante tediosos ou tão específicos que podem cansar o leitor. Por outro lado é interessante ele comentar sobre Stendhal que as pessoas leem sem saber o porquê e muito provavelmente sem entendê-lo.

É difícil dizer o que é mais perturbador: a protagonista perdendo a noção da realidade, mas insistindo em seu plano, a Dra Turtle absolutamente não perceber nada de errado ou os flashbacks da vida pregressa "amorfa" da protagonista.Ela"consciente" ou dopada não parece fazer muita diferença

Calvino segue guiando o leitor ora por textos mais conhecidos como os "inevitáveis" Robinson Crusoe e Cândido ora pelos mais obscuros e inesperados como a revelação de que realmente existiu um Cyrano de Bergerac, cujos textos "antecipam" concepções cosmológicas que nada devem as atuais.

A progressiva queda da protagonista num nada narcotizado é perturbadora. O fato de ninguém sequer notar é ainda mais "incrível". Fica a indagação se realmente é tão fácil assim se permitir esse "sabático" nos EUA.

Calvino segue nos apresentando textos que são quase que inacessíveis ao leitor comum. Um texto que escancara o quão longe estamos de uma mínima formação literária. O fato de mesmo eu tendo uma bagagem literária considerável sentir o baque só me reforça a impressão do abismo mostrado.

Provavelmente uma das coisas mais inquietantes do texto da Ottessa é a ambiguidade.Se por um lado ela nos induz a ter antipatia pela protagonista e considerá-la somente uma WASP fútil, por outro evidencia os sinais de algum tipo de transtorno psíquico real como por exemplo a depressão.

Não há dúvidas de que os textos dessa coletânea tem seu valor, porém provavelmente parte deles se referem a clássicos totalmente fora do radar do leitor comum.

Se por um lado existe um certo humor irônico e é divertido ver a protagonista ridicularizando certas situações sem dó ao recapitular sua adolescência por outro é inquietante perceber que ela já estava em uma espécie de "narcolepsia" muito antes de seu ano "sabático"

Mais do que a falta de "motivos" para a decisão da protagonista em "relaxar" é inquietante a facilidade com que sua terapeuta se deixa enrolar e lhe fornece medicamentos "controlados" Um traficante não lhe forneceria drogas com tanta facilidade, o fato do episódio ser crível é desesperador

Provavelmente o ensaio que abre e dá título ao livro é o melhor ou um dos melhores do livro. Os que o seguem são reflexões do autor sobre alguns clássicos. A definição de Calvino para o que é afinal um Clássico é sem dúvidas engenhosa e mais abrangente do que se poderia imaginar.

Kuang é particularmente cruel, ela não tem nenhum pudor em mostrar para o leitor que o mundo definitivamente não é um passeio no parque e que as pessoas podem ser igualmente "inocentes" e monstruosas ao mesmo tempo. A "necessidade da violência" do subtítulo é perturbadoramente sensata.

Se por um lado a autora se utiliza de uma pequena facilitação (nada absurdo) por outro ela faz um debate social de forma tão direta e ferina que essa galerinha que acha que literatura não tem nada a ver com política vai espumar. Kuang manda a sutileza as favas.

Para quem achava que a narrativa estava lenta, demorando para avançar, de repente, pega embalo e se torna um trem sem freios, o leitor que lute para assimilar a quantidade de temas que Kuang explora.

Com o risco de ser repetitivo, mas é admirável a capacidade de síntese de Kuang Numa olhada superficial temos uma história sobre adolescentes em uma "faculdade", na real temos uma complexa crítica contra colonialismo, racismo, capitalismo, patriarcado e ainda estudo de tradução e língua.

Um dos pontos mais incômodos desse texto é a apatia com que a personagem descreve sua condição convidando o leitor a gradualmente entrar no abismo junto com ela.Releitura para o Traçando Livros.

Por algum motivo nas minhas leituras anteriores não tinha me atentado do quão nova era a Cláudia, digo eu me recordava de que ela era uma criança, mas a via como um pouco mais velha, atento agora a sua idade real, tudo se torna ainda mais perturbador e complexo.

Algo que impressiona aqui é como Kuang trabalha diversas camadas ao mesmo tempo, temos discussões políticas, um óbvio paralelo com a vida acadêmica e ainda um olhar mais aprofundado para questões da Língua e Tradução de uma forma razoavelmente acessível para um leigo.

Retomando a leitura e um dos pontos mais interessantes é como Louis e Lestat tem dificuldades em enxergar um ao outro.

Um menino que não pode andar por negligência médica, uma deficiente que ser recusa ser tratada como "coitada" e uma esquizofrênica mais lúcida do que os vereadores de sua cidade, Brum misturando sofrimento, bela escrita e crítica social.

A comparação que Kuang faz entre "fotografia" e o processo de traduzir logo após uma imensa discussão sobre o debate insolúvel do que é e se é possível fidelidade numa tradução é sensacional.

Impressiona a ambiguidade dos textos de Eliane, por mais que sua escrita construa imagens de incrível beleza seus textos carregam uma tristeza e uma angústia que por vezes quebram o leitor; seja na descrição de um zoológico seja ao relatar a dor de um pai ao enterrar seu filho natimorto.

Eu só acho ignorância Eliane quebrar o leitor logo na primeira crônica.. Por mais que o texto quase flerte com a pieguice a autora não caí no ridículo e mantém um equilíbrio entre uma escrita quase que poética e emocional, mas firmada na realidade.

Kuang intercala crítica social com interessantíssimas reflexões sobre teoria da tradução, provavelmente vai parecer um livro denso para quem não é da área ou não se interessa pelo assunto mas para quem estuda ou trabalha com tradução é um deleite.

(4,0 de 5,0) Hermano Ciervo - Uma nem um pouco velada crítica a indústria farmacêutica e ao uso de doentes de doenças raras em experimentos ainda que justificáveis, a inserção de alguns elementos porém são um pouco confusas, as referências astrológicas funcionam bem as outras nem tanto.

(4,5 de 5,0) Piel De Asno - Um conto bastante curioso onde a autora aborda diversos tipos de preconceito e opressão se utilizando de um curioso recurso de testemunho que fica na ambiguidade entre o religioso e o clínico. Só me incomodou a deturpação usual de Hallelluiah do Cohen

(4,0 de 5,0) Socorro - Um conto de início estranho que vai ficando cada vez mais perturbador conforme se avança na leitura, a autora parece ter uma preferência por finais ambíguos.

(5,0 de 5,0) Cuando Llueve Parece Humano - Um conto perturbador tendo origami como um dos pontos principais é no mínimo inesperado. Impressiona como o conto começa de um jeito e aos poucos vai se tornando aflitivo. Novamente um final ambíguo, belo e um tanto macabro.

(4,5 de 5,0) Pez, Tortuga, Buitre - Um bom conto, novamente com uma conclusão inesperada e um tanto ambígua. Provável que alguns se sintam desconfortáveis lendo.